Espécie brasileira de coral combate superbactéria
Uma das superbactérias mais resistentes a antibióticos, a KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) acaba de ganhar um novo adversário: o coral orelha-de-elefante (Phyllogorgia dilatata).
A espécie, que existe apenas na costa brasileira, é a primeira nas águas da América do Sul a apresentar capacidade de controle desse micro-organismo, encontrado em ambiente hospitalar.
Há relatos de moléculas extraídas de animais marinhos, corais e esponjas que combatem outros tipos de bactérias, mas não a KPC.
Causadora de infecção pulmonar, a KPC matou ao menos 106 pessoas no país em 2010 e 2011, segundo o último levantamento do Ministério da Saúde. A maioria dos casos foi registrada na região sudeste (64) e sul (12).
Responsáveis pelo estudo, pesquisadores da pós-graduação de Ciências Genômicas e Biotecnologia da UCB (Universidade Católica de Brasília) e do Projeto Coral Vivo selecionaram seis espécies de corais para testes.
“A escolha foi feita pelas características desses animais, que sobrevivem à alta competitividade nos ambientes marinhos, possivelmente por possuírem barreiras químicas. Mas ainda não sabemos se a substância que combate a KPC é do coral ou de uma bactéria que vive associada a ele”, diz o biólogo Clovis Castro, coautor da pesquisa e coordenador do Projeto Coral Vivo, ligado ao programa Petrobras Ambiental.
“Nos testes percebemos que o orelha-de-elefante tinha mais potencial [no combate à superbactéria] do que os demais”, disse Loiane Alves de Lima, que apresentou o estudo no mestrado na UCB.
“Também vamos fazer testes contra vírus e fungos. A descoberta pode ter potencial ainda maior”, disse a bióloga molecular Simoni Campos Dias, da UCB, que orientou Loiane Lima. A descoberta foi publicada na revista “Protein & Peptide Letters”, voltada para estudos de bioquímica. O levantamento começou em 2009 com material recolhido em Porto Seguro (BA).
Pedaços de diferentes colônias da espécie foram triturados e passaram por processo de purificação até a separação da substância de combate à superbactéria.
Testes in vitro indicaram que após 12 horas, toda da população de KPC fora exterminada pela proteína do coral.
Publicado em Folha de São Paulo.